O sol nasce diante da árvore que, descobrimos, está quase morta. Só um galho impõe as folhas da estação, e o resto sucumbiu ao silêncio interno do tronco opaco.
O sol incendeia os arbustos de folhas vermelhas. Varre a sala e os livros precisaram ser dispostos assim (já aconteceu antes, noutra era, a intromissão aguda do sol, e todas as lombadas desbotaram).
O silêncio do sono alheio ainda. Três crianças dormem. O último gole de café e um pedaço de poeira irrita levemente o olho esquerdo. Um único e longo fio de teia de aranha desafia o vento e se expõe ao sol.
Vai começar o dia que já começou, o dia dono de seu nome cortante, pulsante, nome que em três letras e um só movimento encerra o desejo côncavo de começo, meio e fim. Sobreviver ao dia é sobreviver à vida, cumpri-la, cumprir-se, na honradez pacata do corpo e do trabalho.
Vem a mensagem: The cycles will redeem this moment, if you let them, and even this shall pass.
A cicatriz branca do avião no céu inteiramente. A ciência ainda não comprovou, mas aqui há mais céu do que em outros lugares.
Em algum momento o sol vai fazer a curva do telhado.
E mesmo isso há de passar.
E mesmo isso há de passar.
Livro de horas
10/06/2008 por Adriana Lisboa
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